sábado, 11 de outubro de 2014


 Renasci: turbilhões de histórias, poesias e arte.
Ultimamente tenho sentado em janelas de lindas e leves cortinas esvoaçantes para conversar com gatos.
Tenho cultivado muitos gostos e sustentando muitos seres em mim. Uma simples cena, da pequena cidade à qual pertenço, sim, a mesma onde não via nada. Agora vejo tudo. Meu Deus, que dádiva frustrante! Sim, frustante. Estou sem tempo pra expôr essas mil maravilhas. "Sobre o céu das margaridas ando" meu caro Lorca, com essa simples frase me fez andar, sobre um céu de margaridas, lírios, tulipas e girassóis. Deveras eu o amo. E a quem amo? É alvo certo. Lerá e saberá que foi acertado pela flecha de Eros. Será o amor que me trás esse turbilhão de mil vidas à mente?
Eu olho pro canto de meus olhos no espelho e penso "O quê queres de mim poesia? Já não aguento mais te privar das folhas de meu caderno, porém como expressar o que em meu ser ainda está guardado a sete chaves?" Sorrio e penso: "Turbilhões,  turbilhões..."

By: Márcia Raquel



"A sabedoria se dá a quem o tempo já se deu"
O tempo já tinha se dado, a sabedoria quem o diga.
Como poeta eu via mais do que realmente existia para ver. Meu pai estava deitado, não como quando via seus filmes faroeste ou descansava de andar o dia todo. Ele estava doente, se rendendo ao teu fim na terra, isso é mais fácil pra quem crê no paraíso. A janela estava aberta (pedido dele) Eu podia ver além do céu, haviam pássaros e eu via além deles também.
Meu sobrinho entrou no quarto e eu ainda não me acostumei com o fato dele não ser mais uma criança, estranhava ainda mais saber que ele já até tinha uma. Meu pai olhou ele com tal ternura, que a dor adiantada da perca dele voltou a mastigar meu peito. Minha voz chorava um mar contido.
- Vô, eu, eu... parou um pouco, olhou o céu, agora eu via força em teu olhar, continuou:
- Eu te amo meu avô,  sabe, eu posso não demonstrar ser um tanto sentimental,  porém... Na verdade, Vô eu coleciono memórias...
 Antes dele terminar meus sentimentos dançavam e corriam, uma extrema ansiedade me tomou. Expectativa. Será? ! Será que ele se lembra?
                            ----    
- Tia! Tia!  Corre aqui.
Eu corri depressa, e o vi em cima do telhado, era uma linda cabeça de criança. O céu estava limpo, os pássaros voavam devagar, aquele tipo de coisa que faz você pensar o quanto a vida pode ser bonita. Fotografei mentalmente.  
- Tia, suba aqui! O avô deixou, vai amar o paraíso que existe no sótão!
 Logo pensei em criar um conto sobre um sótão encantado.
- Querido, espere sua tia. Vou levar café para sua avó!  Já volto, vai ser divertido.
Fui levar, lembro-me do cheiro do café. É um dos cheiros que mais gosto.
- Mãe, o pai e o Henrique estão no telhado! No sótão na verdade.
Ela sorriu ainda olhando para o que fazia. Minha mãe sempre foi concentrada na costura. Em seguida disse:
- Dois gatos no telhado. É bom que o Henrique viva momentos como esse. Se lembrará quando adulto. Ele está te chamando filha, este menino te ama mesmo! É Deus no céu e você na terra.
Rimos juntas e corri para o sótão.

Mais tarde na cozinha contei a meu pai o que minha mãe havia dito sobre criar boas lembranças ao Henrique, ele sorrindo disse:    
- Sim! Ele irá se lembrar! Lembrar do avô dele no sótão.
Naquele instante pedi a Deus para que um dia Henrique se lembrasse do avô no sótão com ele, meu medo era que ele se lembrasse de mim e não do avô! Mas que ele apagasse eu da lembrança, almejo que meu pai estivesse certo quanto a lembrança!  Aquele sorriso, a satisfação de ter um momento raro com seu sobrinho.
                            ----    
Meu coração estava acelerado, o olhar de meu pai era como de uma criança! Eu podia sentir o esperar dele por algo. Henrique parou de gaguejar e foi claro:

- Sim Vô, coleciono memórias. E lembro-me de certo dia, quando pequeno subimos no porão e...


By: Márcia Raquel